sábado, 1 de abril de 2017

TERRA DO EDUCADOR DO FUTURO - BRIGADA SUL-AMERICANA EM CUBA

RELATÓRIO DA XXIV BRIGADA SUL-AMERICANA EM CUBA,
TERRA DO EDUCADOR DO FUTURO.

PERÍODO - 22 DE JANEIRO A 4 DE FEVEREIRO DE 2017
 por Antônio Ibiapino*
¡Hasta Siempre,
Comandante Fidel!
  Os preparativos foram longos, cada delegação trabalhou intensamente para poder concretizar o sonho de participar do histórico processo de construção da Revolução Socialista de Cuba.      
   Certamente as expectativas também foram enormes. De tão grandes não podem ser relatadas, porque apenas a cabeça de cada brigadista sabe o que se passou durante os preparativos. O que seria a brigada? Como seria? Que lugares ou coisas visitaríamos? Qual o significado de visitar Cuba pela primeira vez sem a presença física de Fidel?  
   Enfim, eram muitas as perguntas e também eram muitas as incertezas. Talvez, somente uma coisa era certa. Todos nós acreditávamos que Cuba seguiria lutando e resistindo.
   No dia 22 de janeiro a maioria das delegações já estava no Acampamento Internacional, Julio Antonio Melliá, localizado na província de Artemiza Cuba. 
   É um espaço agradável, fica entre um circulo enorme de árvores. No centro se encontram um conjunto de escritórios, uma biblioteca, um posto médico, uma sala de conferências, um bar (La Piraugua), um restaurante, uma tenda e ao redor, os alojamentos. 
   Numa das pequenas ruas, dispostas de norte a sul, há uma formosa pintura retratando diversos momentos da REVOLUÇÃO. A oeste do lado do bar e na borda da estreita rua que dá acesso a sala de conferencias se vê um solitário pé de mandacaru.
   Nas manhãs de cada dia podíamos ver muitas pessoas de diversos países a caminharem em diversas direções, outras pareciam ouvir músicas cubanas, geralmente revolucionárias, que eram emitidas por uma radiadora instalada no alto de um edificio, e, entre nós, sempre se encontravam dois cachorros brincalhões (Perros). Estas são imagens que talvez nunca se apaguem de nossas mentes.  
   Na segunda feira, 23 de janeiro ou Lunes 23 de enero, a programação foi a seguinte:
6:45 hrs. De pie.
7:oo hrs. Desayuno.
10:00 hrs. Actividad oficial de bienvenida.
11.00 hrs. Conferencia sobre José Martí.
12:30 hrs. Almuerzo.
14:oo hrs. "Processo de actualización del modelo economico y social cubano".
OBS: houve a substituição desse tema por outro e este foi realizado em outra data.
17:00 hrs. Reunión por países.
20:00 hrs. Noche cubana dedicada al 45 Aniversario del CIJAM.
   Estas foram as atividades do primeiro dia, todas realizadas com muito fervor, participação, disciplina e alegria. Sentimento compartilhado por todos, desde os brigadistas mais novos, Eloiza Araujo Vencattu, de 1 ano e oito meses e Nícolas Kemuel Filisberto Pereira de 4 anos de idade ao mais velho, Honório Delgado Rubio, de 91 anos de idade.
   Estas duas crianças: Eloiza acompanhada pela mãe e pelo pai e o Nícolas somente pela mãe, são crianças impressionantes. Em 15 dias de convivência não as vi chorar; ressalto que participaram de todas as atividades sem nenhuma exceção.
   Durante os 15 dias que estivemos em Cuba foi sempre assim, todos os dias acordávamos entre 4:00 h e 7:00 h, sendo que, na maioria das vezes o horário era 6:00 hrs. O galo (gallo) cantava implacavelmente na hora prevista, em seguida se ouvia a música Guantanamera e a partir desse momento mágico se viam mulheres, homens e jovens num corre corre frenético para cumprir com seus deveres revolucionários. 

La “Guantanamera” de José Martí era a canção mais linda. Vejamos:

"Guantanamera, guajira guantanamera,
Guantanamera, guajira guantanamera,
Yo soy un hombre sincero
De donde cresce la palma
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma

Guantanamera, guajira guantanamera,
Guantanamera, guajira guantanamera,

Mis versos es de un verde claro
y de un carmín encendido
Mi verso es de un verde claro
y de un carmín encendido
Mi verso es un ciervo herido
Que busco en el monte amparo

Guantanamera, guajira guantanamera,
Guantanamera, guajira guantanamera,

Con los pobres de la tierra
Quiero yo mi suerte echar
Con los pobres de la tierra
Quiero yo mi suerte echar
El arroyo de la sierra
Me complace más que el mar

Guantanamera, guajira guantanamera,
Guantanamera, guajira guantanamera,   

No dia 24 de janeiro ocorreram sete atividades, uma a menos que no dia anterior, entretanto um grupo de brasileiros realizou por conta própria uma visita a uma comunidade do distrito de Guayabal, município de Caimito. Fizemos isso no horário de almoço para não prejudicarmos a programação oficial. Vimos casas simples e lindas, nenhuma delas tinha muro.
   A conferência das 14:00 h teve como tema: Integração Latino-americana e Caribenha. O conferencista fez um relato histórico das lutas dos povos sul americanos e procurou enfatizar o papel nocivo dos Estados Unidos contra a região. Em seguida houve muitas perguntas. Em minha opinião a conferência foi de altíssimo nível.
   Às 21:00 h teve inicio uma aula de salsa. Salsa é uma dança cubana. Mais ou menos à 0:00 h fui dormir, já o Honório de 91 anos ficou na farra junto com os jovens que não se cansavam nunca. A turma da salsa atrapalhou o meu sono, mas faz parte.
   Miercoles 25 de enero
6:00 hrs. De pie.
6:15 hrs. Desayuno.
7:00 hrs. Salida hacia las labores productivas. Assim foi feito todos os dias. Porque em Cuba 7 horas são 7 horas, nos disse o coordenador do acampamento, companheiro Armando.  

Juntamo-nos na praça e de lá saímos, dois grupos foram colher feijão (Frijoles) em duas cooperativas distintas e o terceiro grupo foi para uma unidade agrícola, próxima ao acampamento, onde plantamos tomate. Ás 7:00 h ainda estava escuro, havia névoa e fazia muito frio, mas nada abateu o nosso ânimo. As mulheres foram as primeiras a subirem nos tratores, meios de transporte utilizados para o translado até os locais de trabalho. Não tenho dúvida de que cada companheira ou companheiro sentiu um orgulho imenso pelo seu próprio altruísmo. Aquele 25 de janeiro foi um dia inesquecível.
   A última atividade foi a projeção de um filme sobre a realidade cubana, que teve inicio às 20:00 h.
   Jueves 26 de enero
6:00 hrs. De pie.
   Neste dia, precisamente as 7:00 h, saímos para o trabalho produtivo, comigo havia mais quinze pessoas, gente do Brasil, da Argentina e do Chile. Lembro do companheiro Luiz e Lícia, ambos do Rio de Janeiro ( Lícia fala bem o espanhol), uma outra companheira de São Paulo - Baixada Santista, militante de muito valor, a companheira Luíza, estudante universitária, também do Rio de Janeiro, dentre outros. Um grupo foi plantar mandioca e outro limpar as bananeiras. Eu, Luíza, Luiz, Lícia e um companheiro do Chile fomos para as bananeiras, de quando em quando encontrávamos um formigueiro, as formigas eram pequenas e pretas, o ferrão ardia intensamente.  Luíza ficou com a pele irritada, mas se comportou como uma revolucionária brilhante, não formulou uma só queixa, nem deixou de cumprir com o seu dever. Falei da Luíza, mas o grupo todo foi exemplar. Como é bonito o altruísmo!     Para mim serviu como lição de vida e estou mais convicto do que nunca de que outro mundo é possível.
   Às 13:30 h saímos para visitar o Museu da Revolução, esta foi uma excelente programação. Ao sairmos do museu, eu, Laurentino, companheiro espanhol e a Tânia, companheira brasileira decidimos abdicar dos ônibus que tínhamos à nossa disposição e fomos caminhar pelas ruas de Havana até a Casa da Amizade, local onde seríamos recebidos para um jantar especial e também uma belíssima programação cultural.
   Para chegarmos ao local referido, caminhamos duas horas e alguns minutos, boa parte da caminhada fizemos pelo Malecon, passando pelo bairro Vedado e outros outros pontos conhecidos de Havana, como Hotel Nacional, Hotel Habana Libre, Giraldilla, etc. Nestas duas horas, eu e a companheira Tânia permanecemos com os nossos  celulares nas mãos, filmando e fotografando o que nos parecia importante. E em nenhum momento fomos abordados por alguém no sentido de roubar os nossos aparelhos. E vejam que a nossa caminhada começou às 17:00 h e terminou depois das 19:00 h ao chegarmos ao local desejado.
   A festa foi realmente linda. Tudo funcionou perfeitamente, o jantar não poderia ser melhor.
   Nosso regresso ocorreu a 1:00 h. Chegamos ao  acampamento às 2:00 h, felizmente pudemos descansar, porque no dia seguinte já sabíamos que às 7:00 h tínhamos que começar nossas atividades nos labores produtivos, compromisso pelo qual fomos de forma voluntária a Cuba.
   Viernes 27 de enero
6:00 hrs. De pie. 
  
No mesmo horário que os dias anteriores saímos para o trabalho produtivo, mas antes, o diretor do acampamento nos deu instruções sobre a Marcha de las Antorchas. No trabalho plantamos mandioca, nosso chefe era o Nine. Nas outras  frentes de trabalho, cuja quantidade de pessoas era maior, não sei quem era o chefe, mas sei que os resultados foram excelentes, tanto pelo empenho como pela disciplina dos e das brigadistas.     
   Meu grupo era constituído em sua maioria mulheres jovens. Trabalhamos com muito  afinco, apesar do cansaço em virtude da festa do dia anterior. Depois das 11:00 h fui à casa do Nine. Lá tomei café com pão. No período da tarde assistimos a uma palestra (Feliú OSPAAAL) e projeção de um vídeo sobre Cuba.    
   À noite, de 21:00 h às 23:00 h, estivemos em Havana, onde participamos da  Machas das Antorchas. Saíimos das grandiosas escadas da Universidade de Havana. Lá estava gente de todo o mundo a formar uma verdadeira multidão, todas e todos  com luzes nas mão. Na frente caminhavam os estudantes e o companheiro Raul  Castro. A Marcha é uma tradição que começou em 1953 com a presença de Fidel  Castro, que tinha 27 anos e já lutava com os demais para libertar Cuba das tiranias. Após as 23:00 h regressamos ao acampamento.    
   Sábado 28 de enero 
4:00 hrs. De pie.
   Às 5:30 h saímos com destino a Santa Clara, onde visitamos o Memorial Ché Guevara. Nesta ocasião um casal de brigadistas colocou flores em homenagem aos mártires. O homem era brasileiro e a mulher era chilena. Depois almoçamos en la Granjita, Santa Clara e saímos para Santi Espíritus. Já no final do dia, quando o sol não brilhava com vigor chegamos e logo fomos recebidos de forma fervorosa pelas autoridades locais e representantes do ICAP. Houve uma  rápida cerimonia, onde eu e a companheira Maria Carolina, jovem argentina da  província de Santa Fé, tivemos a honra de colocar flores no monumento em homenagem aos mártires espirituanos.   
   Ao término da cerimônia nos dirigimos ao hotel onde jantamos. Após o jantar ocorreu uma festa que deve ter durado a noite toda. Eu e Honório não participamos, fomos  dormir. Lamento não ter tomado um banho de piscina antes de dormir, mas não conseguiria, pois fazia muito frio.
   Domingo 29 de enero
  
Às 7:00 h já estávamos no restaurante do hotel, tomamos nosso café da manhã (desayuno) às 8:30 h, em seguida saímos para Yaguajay, onde às 9:30 h fomos recebidos no Complexo Monumental de Camilo Cienfuegos. Os brigadistas obtiveram informações sobre a história da Revolução e de seu desenvolvimento até os dias atuais. Faz parte do Complexo: o Museu, o Memorial, o Conversatorio entre outros espaços. No local onde se encontram os restos mortais dos combatentes revolucionários,  todos nós colocamos flores nas tumbas. Cercando o espaço há 12 palmeiras do lado oriental, 12 do lado ocidental e 3 no centro. Ao todo são 27 palmeiras, o que representa 27 anos, idade que tinha Camilo Cienfuegos na época do acidente que acabou com sua vida física. Na frente, um pouco antes de chegar ao monumento, há um riacho (arroyo), nele há um aquário onde são depositadas flores pelos milhares de cubanos de Yaguajay e de outras regiões. Depois são abertas as comportas e as flores são levadas para o mar, numa referência a Camilo que teve seu corpo tragado pelas águas do mar após o avião que viajava ter caído no oceano em 1959.
   Ao termino das visitas participamos de uma conferência com ex-combatentes, a mesa era composta  homens e mulheres. Foi mais uma excelente atividade política e formativa.
   Às 12:30 h saímos para San José del Lago. Almoçamos no hotel e descansamos um pouco. Às 17:30 h regressamos a Sancti Spíritus, às 19:00 hrs. jantamos (cena) e depois tivemos atividades recreativas. Tudo isso quer dizer que o domingo não foi de brincadeira.
   Lunes 30 de enero
7:00 hrs. Desayuno (merenda)

 Às 8:00 h saímos do hotel com destino a cidade de Trinidad, mais uma das cidades históricas de Cuba. No caminho atravessamos as montanhas de Escambrai, que também são históricas porque serviram de abrigo para os bandidos contrarevolucionários que tentaram acabar com a Revolução no inicio dos anos 1960, mas foram derrotados pelas forças revolucionárias sob o comando do Comandante heroico Fidel Castro Ruz. Escambrai é uma cordilheira imponente de cor azul e bastante comprida (larga), que se estende nas direções oriente, ocidente.
   Eu contemplava Escambrai e ao mesmo tempo lembrava dos versos de Martí, o libertador: "Mi verso es de un verde claro e de un carmin encendido: mi verso es un ciervo herido que busca en el mundo amparo".
   Do meu lado se encontrava Alécio, um companheiro da Bahia com sua filha Heloísa no colo. Quando tirava os olhos da serra, eu brincava com ela e às vezes apertava seu narizinho rosado e afilado.
   Ao chegar em Trinidad fomos recebidos pelos companheiros do ICAP. Realizamos um passeio (recorrido) passando pela Praça Mayor, pelo Palácio dos Canteiros, talvez o maior e mais luxuoso da cidade na época colonial. A família Canteiro era uma das mais ricas da região, dona de muitos escravos, os quais certamente foram explorados até a morte,  prática comum naquela época em todo o continente. Visitamos algumas feiras de artesanato, além de outros pontos históricos. Durante todo o tempo fomos acompanhados por um historiador que nos dava explicações sobre a cidade.
   Ao meio dia fomos para o hotel Cancón. Lá almoçamos e passamos o resto da tarde na praia de Trinidad, praia de águas claras e areias límpidas.
   Martes 31 de enero
7:00 hrs. Desayuno
   Nesse dia, as brigadistas e os brigadistas foram divididos em quatro grupos distintos. O grupo 1 foi visitar um lar de meninos sem amparo; o grupo 2 visitou uma Policlínica e um Centro Médico; o grupo 3  um centro esportivo e o grupo 4 uma Cooperativa Agrícola. Eu me encontrava neste último grupo. Às 9:31 h, chegamos à Cooperativa Nova Cuba, cuja fundação se deu em 1962 e cuja experiência foi adquirida na União Soviética.
   O grupo foi recebido pela comunidade local. Participamos de uma palestra explicativa sobre como foi criada a cooperativa, sua história e seu desenvolvimento. Em seguida realizamos uma visita a uma pequena plantação próxima à sede da Cooperativa.     
   Algumas plantas que pudemos ver: Zanahoria (Cenoura), Lechuga (Alface), Remolacha (Beterraba), Acelga España (Couve), Cilantro (Coentro), Berenjena (Biringela), Maiz (Milho), Frijol (Feijão), Boniato (Batata doce), Orégano (Malvarisco) e outras.
   Nessa visita vi homens e mulheres, que antes não tinham nada e agora, com a Revolução, são donos de suas próprias terras. E o que é mais importante: são donos de seus próprios destinos,  num país que autoproclama Território Livre en las Américas.
  
Ao final saímos para Sancti Spíritus, cidade fundada pelos espanhóis em 1514. A maioria ficou na cidade, alguns poucos voltaram para o hotel já que a tarde era recreativa. Os que ficaram puderam visitar muitos centros históricos, para tanto contamos com o apoio da historiadora Maria Antonia Rimenes. Vimos igrejas, o Museu das Gayaberas, el rio Yayabo, a ponte Yayabo erguida em 1831. Eu, por iniciativa pessoal, visitei o Museu de Arte Colonial,  uma casa conhecida como casa das 100 portas porque tem exatamente 113 portas. Esta casa pertenceu a Don Fernando Alfonso del Valle. Era um dono de escravos.
    Ás 17:00 h regressamos ao hotel, às 19:00 h jantamos e às 20:30 h visitamos um CDR - Comitê de Defesa da Revolução. No CDR conversamos com os moradores do local, com algumas crianças, com o médico da quadra, além de ouvirmos a fala do presidente. Vimos então o entusiasmo do povo, a participação popular, a disciplina e a confirmação de que o povo cubano seguirá defendendo o socialismo.
   Por último ouvimos a boa música cubana e nos foi servido comidas típicas. O dia 31 de janeiro foi realmente maravilhoso!
   Miércoles 1 de febrero
7:30 hrs. Desayuno
  
Até o meio dia não fizemos nenhuma atividade, foi uma manhã de descanso. Quase todo mundo desfrutou da maravilhosa piscina. Às 12:30 h almoçamos e às 13:30 h regressamos ao acampamento. Foram 4 longas horas de viagem desde Sancti Spíritus até Artemisa. Ao chegarmos, jantamos e participamos de duas reuniões, a primeira reuniu todas as delegações e a segunda, somente com a delegação brasileira, que contava com 56 pessoas, segundo relação fornecida pela nossa coordenadora, Alessandra Kosinski de Oliveira, dos quais 9 eram do Rio Grande do Sul, 7 de Santa Catarina, 7 do Parana, 7 de São Paulo, 1 de Minas Gerais, 1 do Ceará, 11 do Rio de Janeiro, 7 da Bahia e 6 de Pernambuco.
   As reuniões a que nos referimos tinham como objetivo elaborar o documento final da brigada. Entre nós as dificuldades foram maiores porque havia duas posições diferentes e, pelo visto, inconciliáveis.
  
Mais ou menos por volta da meia noite conseguimos finalizar a reunião e nos recolhemos para um merecido descanso, haja vista que no dia seguinte tínhamos trabalho pela frente.
   Marte 2 de febrero
5:45 hrs. De pie.
6:00 hrs. Desayuno
7:00 hrs. Matutino
7:15 hrs. Saímos para o trabalho produtivo. Neste dia ficamos no próprio acampamento, fizemos limpeza, capinamos e plantamos diversas especies de plantas. Eu, Honório, Laurentino e também o Santigo, que trabalha na área agrícola do acampamento, ficamos no mesmo grupo. Conosco havia ainda outras pessoas. Este foi o último dia de trabalho, pelo qual demos nossa humilde contribuição a um país que, mesmo sofrendo o mais brutal bloqueio econômico da história da humanidade, soube dar sua contribuição à história da  humanidade com o seu exemplo de solidariedade e promovendo o bem-estar e a vida de seu povo.
   O que as mulheres, os homens e as crianças brigadistas fizeram foi, para além do trabalho voluntário, um significativo aprendizado que certamente servirá para o resto de nossas vidas.
   Mais do que nunca podemos afirmar: Entre los sentimientos humanos la solidaridad es el único que nutre y alegra el alma.
   Às 14:00 h, logicamente depois do almoço, nos dirigimos à sala de conferências onde foi ministrada a palestra sobre "Proceso de actualización del modelo economico y social cubano", prevista para o dia 23 de janeiro, que fora adiada conforme relatei. A palestra foi bastante esclarecedora, sobretudo pela notável competência da economista que a proferiu.
   No final da tarde improvisamos uma partida de futebol,  e é claro que eu participei e fiz três gols.
   Após o jantar, eu, Laurentino, Honório, Yaris, o diretor do acampamento e outros dois ou três companheiros trabalhadores bebemos uma garrafa (botella) de vinho espanhol e comemos chorizo de Espanha que Laurentino nos brindou. Honório ofereceu pão, atum e sardinha. Foi um bom piquenique. Ao final de tudo houve aula (classe) de salsa. Desta atividade não participei, fui deitar-me e ouvir a Rádio Relógio.
   Vierne 3 de febrero
7:00 hrs. Desayuno
   9:30 hrs. Encontro de solidariedade.  Na mesa estavam a direção do acampamento, a quem coube a coordenação dos trabalhos, Fernando Gonzalez, Presidente do ICAP, Bráulio de Barros Wanderley representando a delegação brasileira e uma companheira representando a delegação argentina, responsável pela leitura do documento final. Seu nome é Camila, uma jovem muito politizada, assim como os demais membros da delegação da Argentina.
   O discurso de encerramento coube ao companheiro Fernando González. Foi mais uma missão comprida, contudo havia ainda duas importantes tarefas: a preparação da Noite Sul Americana, que aconteceria às 20:00 h. Para isso o trabalho foi intenso.  

Na hora prevista a praça estava perfeitamente arrumada, cada país fez o seu melhor. Havia painéis sobre história, cultura, música, etc. As bandeiras tremulavam com a força da brisa cubana, que com mãos invisíveis passavam em nossos corpos como se fossem uma carícia leve e fria. Às 21 horas mais ou menos, começaram as apresentações, foi um ato indescritível. Eu poderia até fazer um esforço para falar sobre o que vi, mas prefiro deixar para quem possa ler este relatório, o aguçar de sua própria imaginação. Acrescento apenas, que o conteúdo e a beleza de cada país eram incomensuráveis. Contudo, em minha opinião, o Brasil se superou pela grande criatividade.
   Ao final todo mundo comeu e bebeu, porque comidas e bebidas típicas foi o que não faltaram. 
   Sábado 4 de febrero
7:00 hrs. Desayuno
   Às 9:30 h saímos para Havana. Os ônibus, como sempre, foram acompanhados por batedores da polícia, que eram responsáveis pela nossa segurança. Neste dia todo mundo ficou à vontade e cada um fez o que quis. Eu, Laurentino, Tânia e a companheira de Costa Rica formamos um grupo e assim visitamos várias ruas, pontos históricos, como a Catedral, La Bodeguita del Medyo, La Plaza de las Armar, el Gran Teatro de la Habana dentre outros.
   Às 17:00 h regressamos, jantamos e a noite foi livre de qualquer compromisso formal.
  
Domingo, 5 de fevereiro era o final de nossa estadia em Cuba. Às 7:00 h,dDesayuno. A esta temprana hora, muitos já haviam saído, outros ainda não. Falei com alguns, os últimos foram Laurentino, Honório e o Nine. A companheira Yaris representante do ICAP no Brasil me levou ao aeroporto internacional José Martí, coisa que o fez com a mesma presteza de todos os momentos que nos acompanhou, do primeiro ao último dia.
   O galo ficou, não sei se segue cantando, o sinsonte que canta melhor do que el Tocororo, com certeza, canta todos os dias, Carbonero e Asabate ficaram com o Santiágo. Da querida delegação argentina não tenho notícias, só saudades, a chilena deve estar contemplando a hermosa flor Copihue, Costa Rica, Colômbia, Espanha e Brasil devem estar cada cual com seus trabalhos, com seus sonhos cada cual, com a esperança no futuro e as recordações do passado, e assim seguimos lutando. Para os irmãos e irmãs de Cuba cultivo uma rosa branca em julho como em janeiro.
   Se depois de tudo, tivermos aprendido que o trabalho produtivo deve servir aos homens e às mulheres sem nenhuma exceção, e não a meia dúzia de parasitas que à custa do trabalho alheio acumulam riquezas absurdas enquanto muitos vivem na mais absoluta miséria. Se tivermos reforçado em nós mesmos, valores como o altruísmo, a solidariedade, a justiça social, a simplicidade, o patriotismo e amor ao próximo, seguramente seremos melhores do que antes, seremos comunistas e quem sabe poderemos até dizer: Nosotros también somos Fidel!

Eunice Bezerra Comandante IbiapinoFrancisco Malta
Presidente da Casa, ladeado por seus vices, confraternizam
90 anos de Fidel Castro Ruz – agosto de 2016.
* Antonio Ibiapino da Silva - Brigadista.
   
Antonio Ibiapino, ou como chamamos: 
Comandante Ibiapino é o atual Presidente da Casa da Amizade Brasil/Cuba no Ceará

¡Hasta la victoria, Siempre!